Interpretação na História
INTRODUÇÃO
Uma coisa precisa ser muito bem esclarecida.O estudante de teologia não é o único que está tentando interpretar a Bíblia, isto vem ocorrendo há muito tempo. Por isso é necessário ter uma visão panorâmica da história da interpretação bíblica ocorrida no decorrer dos anos. Através deste ponto de vista o estudante entenderá melhor os métodos e os princípios de interpretação. Também não cometerá os mesmos erros, podendo partir de um ponto já visto ou, até mesmo, pular um erro e procurar uma melhor forma de interpretar. O adágio de Santayana diz que "aquele que não aprende a lição da história está fadado a repeti-la". Então, para uma melhor compreensão do panorama histórico, é preciso ver alguns tipos de interpretação ao decorrer dos anos.
Interpretação judaica
Apesar do povo de Israel estar sempre ouvindo as leis de Deus (Torah), continuava tendo a necessidade de interpretá-las para que a compreendesse.
Pode-se afirmar que a história da
interpretação bíblica começou com Esdras quando o povo voltou do cativeiro babilônio,
por volta de 536 a.C., para a reconstrução do Templo de Jerusalém, conforme
consta no livro de Neemias 8.1-12.
O povo pediu a Esdras que lesse a Torah,
porque no período do exílio a compreensão do hebraico havia sido perdida e se
falava o aramaico. Por isso era necessário que alguém pudesse traduzir o texto
para a língua, ou melhor, para a cultura do povo judeu, conforme consta no
versículo 8, o qual fala a respeito da leitura da Palavra de Deus e como os
levitas fizeram para que o povo a entendesse através da interpretação.
Apesar de todo esse cuidado, que foi muito
importante, surgiram alguns problemas. Com o passar dos anos os rabinos acharam
que podiam interpretar as Escrituras através de outros meios existentes na
época, os quais eram diferentes aos já existentes. Vejamos a seguir:
Letrismo
Era o tipo de interpretação na qual as letras na
mente do autor criavam interpretações fantásticas.
O rabino Akiba (50? - 132 d.C.), líder de
uma escola para rabinos em Jaffa, na Palestina, afirmava que toda repetição,
figura, paralelismo, sinonímia, palavra, partícula, pleonasmo e, ainda mais, a
própria forma de uma letra possuía um significado oculto. Da mesma forma que
cada fibra da asa de uma mosca ou da perna de uma formiga tem sua importância
curiosa. Também dizia que, assim como o martelo que trabalha ao fogo provoca
muitas fagulhas, cada versículo das Escrituras possui muitas explicações. Para
ele cada consoante do texto bíblico tinha vários significados.
Midráshica
O rabino Hillel (70? a.C. - 10 d.C.), nascido na
Babilônia e fundador de uma escola em Jerusalém, é considerado o fundador das
normas básicas da exegese rabínica.
Essas regras foram divididas em seis (6) tópicos,
os quais se subdividiram nos 613 mandamentos da lei mosaica. Mesmo assim,
continuou com uma exposição fantasiosa em vez de conservadora.
Sua exegese dava vários significados aos
textos, palavras e frases sem levar em conta o contexto; combinava textos que
tinham palavras ou frases semelhantes sem se preocupar com as idéias expostas
em cada um e interpretava aspectos incidentais de gramática. Ex.:
A "formação de uma família" no texto,
isto é, quando um grupo de passagens possui conteúdos semelhantes, considera-se
que tal grupo tenha a mesma natureza, oriunda do sentido da passagem principal
do grupo. Assim sendo, pode-se interpretar o que está difícil nas passagens
levando-se em consideração o trecho principal;
Outro exemplo
seria a dedução a partir do contexto.
Pelo simples fato de dar interpretação a identificação
de significados ocultos em incidentes gramaticais e a expressões numéricas
arquitetadas, a midráshica perdeu a visão do verdadeiro sentido do texto.
Pesher
Este método de interpretação existia,
particularmente, entre as comunidades de Qumran e dava ênfase às coisas
escatológicas. A comunidade de Qumran acreditava que tudo quanto os antigos
profetas escreviam tinha um significado profético. Esta interpretação
apocalíptica era comum entre eles, pois acreditavam que o "Mestre da
Justiça" (Deus) tinha revelado o significado das profecias, que sempre foi
um mistério. Mas o que mais os agradava era a idéia de pensarem que eles eram o
remanescente das profecias.
Alegórica
Alegorizar é procurar um sentido oculto ou
obscuro que se acha escondido no texto. Entretanto este sentido é dado de
acordo com a interpretação do intérprete.
A interpretação alegórica baseia-se,
principalmente, no sentido literal que é tido como base. Dentro desta ótica, a
interpretação literal é um código que precisa ser decifrado e a alegorização
traz o seu verdadeiro significado e dá sentido ao texto.
Virkler diz que a exegese alegórica baseava-se na
idéia de que o verdadeiro sentido jaz sob o significado literal da Escritura.
Alguns escritores afirmam que a interpretação
alegórica já existia. Mas foi a partir da admiração, que os filósofos gregos
tinham pela mitologia, que a alegorização se tornou mais conhecida e também
muito influenciada. Os filósofos utilizavam este método porque a mitologia
grega era muito imoral, talvez seja melhor dizer amoral, e também continha
muito antropomorfismo. Com a interpretação alegórica os mitos perderam o
sentido literal e passaram a ter um sentido oculto e mais profundo, isto é,
sempre havia uma aplicação para a vida pessoal.
Os judeus alexandrinos, no Egito, foram
alcançados pela filosofia grega e tiveram sérios problemas quando começaram a
ser influenciados pela mesma. Pois como eles poderiam aceitar o AT e a
filosofia grega? Alguns achavam a resposta alegorizando a Torah (Lei Mosaica).
Duas pessoas se destacaram neste período, Aristóbulo (100 a.C.) e Filo (20 a.C.
- 54 d.C.).
Aristóbulo acreditava que o AT era a base da
filosofia grega, por isso os ensinamentos só seriam compreendidos mediante a
alegorização.
Filo ou Filão é considerado o alegorista
judeu-alexandrino mais famoso. Apesar de sofrer a influência da filosofia
grega, tentou defender o AT contra todos. Sua vontade de defendê-lo era tão
grande que achava que o sentido literal era para os imaturos e o alegórico para
os maduros, isto é, para a alma.
Seu medo era que Deus fosse visto como alguém
terrível ou como um monstro da mitologia grega e por isso preferia aplicar
algumas passagens à vida normal através da alegorização. Alguns exemplos onde
ele utilizava a alegoria:
Quando o significado literal dizia algo indigno
de Deus; a declaração parecia ser contraditória à outra da Escritura; havia
expressões ambíguas ou palavras
supérfluas; havia repetição de algo já reconhecido; era possível um
jogo de palavras; havia presença de símbolos.
Exemplo citado por Zuck: Se o texto bíblico diz
que Adão 'se escondeu de Deus', essa expressão é uma desonra a Deus, que vê
todas as coisas - portanto, só se pode tratar de alegoria.
A interpretação alegórica influenciou a tantos,
que os essênios se tornaram numa comunidade fechada e ascética. Eles viviam em
cavernas próximas ao Mar Morto, copiavam as Escrituras e escreviam alguns
comentários sobre o AT.
Com a vinda de Jesus e do Espírito Santo,
assim como, com a obediência dos apóstolos em ensinarem os mandamentos de
Cristo, a interpretação começou a tomar outro rumo.
O NT é constituído de quase 15% de
citações diretas, de paráfrases ou de alusões ao AT. Dos trinta e nove (39)
livros do AT, apenas nove não são expressamente mencionados no NT.
Jesus é a fonte para a veracidade do AT,
pois ele citou muitos textos do AT dando autoridade a tais. É muito importante
observar que Jesus nunca entrou em contradição com nenhum texto, muito menos
com os escribas. Todas as interpretações feitas por ele eram aceitas pelos que
as ouviam. Os escribas e os fariseus nunca o acusaram de usar a Escritura de
uma forma antinatural ou ilegítima.
No texto de Mateus 5.21-48, Jesus repudia os
acréscimos e as interpretações errôneas do AT. Em Mateus 22.23-33 encontra-se
novamente um relato de Jesus corrigindo os saduceus. No versículo 29 Jesus os
corrige ao dizer:
“Errais, não
conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.”
e ainda, no
versículo 33 é demonstrado como Jesus era visto por todos:
“E as multidões,
ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina.”
Mesmo assim, as interpretações
continuavam ocorrendo de forma incorreta. Na época dos apóstolos ocorreram
alguns problemas relacionados com elas. Mas a maioria das interpretações feita
no NT em relação ao AT era literal, isto é, história como história; poesia como
poesia.
Interpretação
Patrística
A respeito dos pais da igreja no 1º século d.C.,
sabe-se que em seus escritos proliferavam algumas citações do AT e entendiam
que estas convergiam para Jesus Cristo.
Juntamente com os apóstolos, uma escola
de interpretação alegórica dominou a igreja nos séculos seguintes. Mas esta
alegorização tinha um propósito considerado digno, que era o desejo de entender
o AT como um documento cristão.
Clemente de Roma (de 30 a 95 d.C.) fez
muitas citações detalhadas do AT e também citou o NT com muita freqüência, com
o intuito de reforçar as suas próprias exortações. Inácio de Antioquia, da
Síria, escreveu sete cartas endereçadas à Roma citando constantemente o AT e
falando de Cristo; Policarpo de Esmirna, em sua Epístola aos Filipenses, também
citou o AT. A Epístola de Barnabé também contém as suas citações e é nela que
se encontra a gematria, a saber, a prática de atribuir significados aos
números.
Entretanto, o mais importante de tudo isto é que
todos os pais da igreja primitiva escreveram sobre Jesus utilizando o AT como
referência, mesmo sendo influenciados pela alegorização.
Um exemplo desses textos que mostravam
que o AT prenunciava a Jesus Cristo é o de Justino Mártir (100-164 d.C.).
Apesar de alegorizar todos os textos que escrevia, ele afirmava que o AT fora
escrito para os cristãos. Todavia estes só poderiam entendê-lo através da
alegorização.
Quem permaneceu quase intocável, quanto a alegorização,
foi Irineu (130-202 d.C.). Suas obras mais conhecidas são: Contra as Heresias e
A refutação da falsa gnose. Ele ressaltou que o melhor método de interpretação
era o da fé.
Outro que seguiu os mesmos caminhos de
Irineu, foi Tertuliano de Cartago (160-220 d.C.). Dizia que a solução para as
heresias era a regra da fé, que era mais conhecida como os ensinamentos
ortodoxos sustentados pela igreja. Mesmo acreditando que as Escrituras tinham
de ser interpretadas de forma literal, começou a ser influenciado pela
alegorização.
Os Pais
Alexandrinos
Foi na cidade de Alexandria que a religião
judaica e a filosofia grega se encontraram e começaram a ter um processo de
união. A filosofia platônica era tida como popular e era utilizada na interpretação
das Escrituras.
No início do 3º século d.C. a
interpretação das Escrituras sofreu forte influência da escola catequética de
Alexandria, a qual tinha como mestre, Panteno. Este faleceu em 190 d.C. e é o
mais antigo mestre citado desta escola do Egito. Ele foi professor de Clemente
de Alexandria (155-216 d.C.), o qual provavelmente foi influenciado por Filo.
Clemente de Alexandria ensinava que as Escrituras
possuíam uma linguagem simbólica para despertar a curiosidade das pessoas e
isto ocorria porque nem todos deveriam entendê-la. Para ele o método literal
desenvolvia uma fé muito elementar. Foi o primeiro a aplicar o método alegórico
na interpretação do AT e a propor o princípio de que toda Escritura deve ser
entendida alegoricamente.
Desenvolveu uma teoria onde afirma que as
Escrituras estavam cheias de riquezas e são muito profundos. Orígenes (185-254
d.C.), foi seu discípulo e esse cria que cada detalhe contido na Escritura é
algo simbólico e tinha como base para esta afirmação o texto de I Coríntios
2.6-7
“Na verdade, entre os perfeitos falamos
sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo,
que estão sendo reduzidos a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério,
que esteve oculta, a qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória.”
Orígenes era tricotomista (Doutrina que admite
que são três os princípios que se integram no homem; o corpo, a alma e o
espírito) como Platão e achava que as Escrituras também possuíam três partes,
afinal foram reveladas para os homens. Para ele o corpo era o sentido literal,
o qual desprezava; a alma, o sentido moral; e o espírito, o sentido alegórico
ou místico.
Uma das suas obras mais conhecidas é Os
Hexapla, que era composta por seis colunas paralelas e que continham o texto em
hebraico e mais cinco versões gregas diferentes. Esta obra durou vinte e oito
anos para ser concluída. Entretanto, o trabalho que mais defendia a sua tese
era o De principiis. Apesar de toda sua alegoria foi considerado o maior
teólogo de todos os tempos.
Os Pais
Antioquinos
No meio de toda essa confusão, surgiu um grupo de
eruditos em Antioquia, da Síria, que tentou acabar com o letrismo dos judeus e
com o alegorismo dos alexandrinos. Doroteu e Lúcio faziam parte deste grupo e,
segundo dizem, foram eles que fundaram a escola de Antioquia no final do
terceiro século.
Os pais da igreja, em Antioquia, incentivaram o
estudo das línguas originais das Escrituras (hebraico e grego) e também
começaram a redigir comentários sobre as Escrituras. Para os antioquenses o
significado espiritual de um acontecimento histórico estava implícito no
próprio acontecimento. Um exemplo: para eles a partida de Abraão de Harã (Gn
12.1-9) para a terra prometida por Deus, nada mais é, que um sinal de fé, confiança
em Deus.
Diodoro, um dos antioquenses, escreveu um tratado
sobre os princípios de interpretação. Entretanto, o seu feito maior, é
demonstrado através da vida de seus dois discípulos Teodoro de Mopsuéstia e
João Crisóstomo.
Teodoro de Mopsuéstia foi considerado o maior
intérprete e crítico da escola de Antioquia. Defendia com muito zelo o
princípio da interpretação histórico-gramatical, isto significa que o texto
tinha que ser interpretado conforme as regras gramaticais e os fatos da
história. Foi considerado o exegeta da época e a sua exegese era intelectual e
dogmática.
João Crisóstomo, outro discípulo de Diodoro, se
destacou mais por causa da sua eloqüência. Por isso o nome Crisóstomo, que
significa boca de ouro. Foi considerado o arcebispo de Constantinopla. Sua
exegese era "espiritual" e prática. Escreveu mais de 600 homilias
(Pregação em estilo familiar e quase coloquial sobre o Evangelho. Discurso que
afeta moral exagerada); suas obras contêm cerca de 7.000 citações do AT e
11.000 do NT. Por isso alguns o consideram o maior comentarista entre os
primeiros pais da igreja.
A escola de Antioquia criticava os
alexandrinos por colocarem a historicidade do AT em dúvida constantemente.
Todavia teve alguns problemas que a levou a entrar em contradição. Entre eles
deve-se ressaltar que Teodoro, apesar de aceitar o sentido literal das
Escrituras, não aceitou a inspiração divina de alguns livros. Também não se
pode deixar de falar em Nestório, discípulo de Teodoro, o qual se envolveu numa
grande heresia concernente à pessoa de Cristo e também deixou se influenciar
com outras circunstâncias históricas.
Influência
Ocidental
Entre os séculos V e VI surgiu, no
Ocidente, um tipo intermediário de exegese. Além de acolher alguns elementos da
escola alegórica de Alexandria, acolheu também os princípios da escola da
Síria. Mas teve uma influência importante porque acrescentou um elemento, até
então sem importância, que era a autoridade da igreja e da tradição na
interpretação da Bíblia. Desta forma o ensino, no âmbito da igreja, passou a
ter valor e virou regra. Essa exegese foi representada por Hilário, Ambrósio,
Jerônimo e Agostinho. Mas estes dois últimos foram os que mais influenciaram no
método de interpretação entre todos os setes que se destacaram.
Jerônimo, 347-419 d.C., adotou, no
princípio, a alegorização de Orígenes. Mas depois se tornou mais literal graças
à influência da escola de Antioquia e dos membros judeus. Acreditava que o
método literal desvendava o sentido mais profundo das Escrituras, caso
contrário, ignorava-o. O comentário que fez sobre Jeremias tinha o método
literal, mas ao compará-lo com o comentário sobre Obadias, nota-se a diferença
entre os métodos literal e alegórico.
Era um profundo conhecedor do grego e do
hebraico, embora tenha utilizado na sua exegese muitas notas lingüísticas,
históricas e arqueológicas.
Jerônimo viajou muito, mas por volta de
386 d.C. morou em Belém. Onde em clausura, escreveu vários comentários sobre os
diversos livros da Bíblia e a traduziu para o latim. Esta foi a maior de todas
as suas obras, A Vulgata.
Outro que se destacou dos demais foi Agostinho,
cuja diferença em relação a Jerônimo estava em não conhecer as línguas
originais das Escrituras. Mas em termo de originalidade e inteligência, foi o
maior de sua época (354-430 d.C.) e também exerceu grande influência na igreja.
No início, seguia a linha do maniqueísmo:
movimento que começou no início do século III d.C., desvalorizava o NT e
ressaltava os antropomorfismos absurdos do AT. Os maniqueístas eram seguidores
de Manes e tinham dois princípios básicos: que havia um Deus bom e um mau;
afirmavam que o casamento e a procriação eram um ato pecaminoso.
Ao ouvir Ambrósio citar na Catedral de Milão, na
Itália, o texto de II Coríntios 3.6 que diz:
“... o qual
também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do
espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.”
Agostinho atentou apenas para a parte que
diz que a letra mata, mas o espírito vivifica e a utilizou como base para a sua
metodologia alegórica na interpretação. Ele afirmava que a interpretação
literal das Escrituras mata, mas a alegórica ou espiritual vivifica. Com este
método de interpretação, Agostinho, tornou-se um alegorista na prática e por
isso, os seus escritos apresentados no trabalho De Doctrina Christiana, têm
mais valor do que seus comentários exegéticos. Nesta obra, escrita em 397 d.C.,
afirmou que a maneira de descobrir o sentido alegórico de uma passagem é
consultar a regula fidei (regra da fé), que era para ele o ensinamento da
igreja e da própria Escritura. Apesar de considerar o sentido literal usou
livremente o alegórico e também defendeu que um intérprete deve estar sempre
pronto para sua tarefa, seja filosófica, crítica ou histórica, mas que acima de
tudo tem que ter amor ao autor.
No terceiro volume da obra De Doctrina
Christiana, são apresentadas sete regras de interpretação que eram tidas como
base racional para a alegorização. São elas:
1-O Senhor e seu corpo: as referências a
Cristo quase sempre também se aplicam a seu corpo, a igreja;
2-A divisão em
dois, feita pelo Senhor ou a mistura que existe na igreja: a igreja pode conter
tanto hipócritas quanto cristãos genuínos, representados pelos peixes bons e
maus apanhados na rede (Mt 13.47,48);
3-Promessas e a lei; algumas passagens
estão relacionadas com a graça e outras com a lei; algumas ao Espírito, outras
à letra; algumas às obras, outras à fé;
4-Espécie e gênero: certas passagens
dizem respeito às partes (espécie), enquanto outras se referem ao todo
(gênero). Os cristãos israelitas, por exemplo, são uma espécie (uma parte)
dentro de um gênero, a igreja, que é o Israel espiritual;
5-Tempos:
discrepâncias aparentes podem ser resolvidas inserindo uma afirmação em outra.
Por exemplo: a versão dos evangelhos de que a transfiguração ocorreu seis dias
após o episódio em Cesaréia de Filipe insere-se dentro da versão de outro
evangelho, que registra oito dias. E o significado dos números quase nunca é o
matemático exato, mas sim o de ordem de grandeza;
6-Recapitulação: algumas
passagens difíceis podem ser explicadas quando vistas como se referindo a um
relato anterior. O segundo relato sobre a Criação, em Gênesis 2, é entendido
como uma recapitulação do primeiro relato, em Gênesis 1, não como uma
contradição a ele;
7-O diabo e seu corpo: algumas passagens que falam do diabo,
como Isaías 14, estão mais relacionadas a seu corpo, isto é, a seus seguidores.
Agostinho também disse que a Escritura
tem um sentido quádruplo: histórico, etiológico (estudo de coisas acerca da
origem), analógico, e alegórico. Para ele o texto bíblico possui mais de um
sentido, justificando assim o método alegórico. Com base neste método quádruplo
de interpretação, Agostinho dizia que: nos textos de Gênesis 2.10-14 os quatro
rios eram quatro virtudes fundamentais; em Gênesis 3.7,21 as folhas da figueira
eram a hipocrisia e o cobrir da carne, a mortalidade; em Gênesis 9.20-23 a
embriaguez de Noé, simbolizava o sofrimento e a morte de Cristo.
Apesar dele ter influenciado no desenvolvimento
da exegese científica na parte teórica, não a praticou em seus estudos bíblicos
e ainda teve a sua opinião como um fator predominante na Idade Média.
Muitos foram influenciados por esse
método de Agostinho. Entre eles está João Cassiano, monge da Cítia (atual
Romênia), 360-435 d.C., também pregou o sentido quádruplo da Bíblia, só que
tinha dois itens diferentes: histórico, alegórico, tropológico e anagógico. O
sentido tropológico, se referia ao sentido moral já que o significado da
palavra no grego é desvio, indicando conduta, comportamento, isto é, um sentido
moral; o anagógico, se refere a algo oculto, celestial que no grego é traduzido
por fazer subir. De acordo com este método os quatro significados de Jerusalém
são: historicamente: a cidade dos judeus; alegoricamente: a igreja de Cristo;
tropologicamente (ou moralmente): a alma humana; anagogicamente: a cidade
celestial.
Euquério de Lião (? - 450 d.C.), em seu livro As
regras da Interpretação Alegórica, tentou provar que as Escrituras contêm
linguagem simbólica. Dizia que da mesma forma que não se joga pérolas aos
porcos, as verdades bíblicas são vedadas às pessoas não espirituais. Mas também
percebia um sentido literal nas Escrituras.
Adriano de Antioquia, por volta de 425 d.C.
elaborou um manual de interpretação chamado Introdução às Sagradas Escrituras,
onde afirmou que os antropomorfismos não devem ser interpretados ao "pé da
letra". Disse que para compreender os significados mais profundos era
preciso transcender o entendimento literal.
Junílio, em 550 d.C, redigiu o manual de
interpretação As Regras da Lei Divina, e afirmou que a fé e a razão não são
pólos opostos. Apoiou Adriano ao dizer que a interpretação da Bíblia deveria
partir da análise gramatical, mas nunca se limitar só a ela.
Vicente, 450 d.C. em seu Commonitorium disse que
"a linha de interpretação dos profetas e apóstolos precisa seguir a norma
dos sentidos eclesiásticos e católicos". Para verificar o sentido do texto ele se baseava na
universalidade, na idade e no bom senso do mesmo.
De acordo com tudo o que foi visto,
nota-se que Jerônimo, Agostinho e Vicente abriram espaço para a alegorização e
para a autoridade da igreja.
Interpretação na
Idade Média
Na Idade Média, a ignorância em relação a Bíblia
predominou. Muitos clérigos (Indivíduo que tem todas as ordens sacras, ou
algumas delas; aquele que pertence à classe eclesiástica; sacerdote cristão;
aquele que já se iniciou nas ordens sacras pela tonsura dos cabelos) conheciam
apenas a Vulgata e os escritos dos pais da igreja e era através destes que eles
estudavam a Bíblia, pois achavam-na muito cheia de mistérios e que só poderiam
entendê-la misticamente.
Por isso, que a tradição da igreja ocupou
lugar de relevo, assim como a alegorização e o sentido quádruplo da Escritura
de Agostinho e João Cassiano. Para eles fazerem uma boa interpretação bíblica,
o texto tinha que ter quatro níveis de significação:
1-A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais
fizeram (histórico); 2-A alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé
(alegórico); 3-O significado moral dá-nos as regras ocultas da vida diária
(tropológico); e 4-A anagogia mostra-nos aonde termina a nossa luta
(anagógico).
O princípio aceito para a interpretação era o que
se adaptava à tradição e a doutrina da igreja. Toda a teologia estava
condicionada a este princípio quando se referia a Bíblia. O clérigo que
reconduzisse os ensinos patrológicos e descobrisse os ensinos da igreja nas
Escrituras Sagradas era tido como o erudito da época.
Nos mosteiros foi adotada a regra de São
Benedito que dava ênfase à leitura da Bíblia sendo a explicação final conforme
a exposição patrológica. Hugo de S. Victor disse que primeiro aprendia o que
deveria crer e depois encontrava a afirmação na Bíblia. Os estudantes que
surgiam também utilizavam a alegoria para interpretarem as Escrituras.
Alguns associam o início da Idade Média a
Gregório o Grande (540-604 d.C.), o qual foi o primeiro Papa da Igreja Católica
Romana. Este também utilizava e defendia o método alegórico. Como exemplo de
sua alegorização pode-se citar o livro de Jó: onde os três amigos são os
hereges, os sete filhos são os doze apóstolos, as sete mil ovelhas são os pensamentos inocentes, os três mil
camelos são as concepções vãs, as quinhentas juntas de bois são as virtudes e
os quinhentos camelos são as tendências lascivas.
Alegorizar a Bíblia como se vê acima, pode levar
a um extremo e até mesmo a heresia. Entretanto, muitos seguiram o mesmo
caminho. Entre eles estão:
a)
Beda, o Venerável (673-734) teólogo anglo-saxão: para ele na parábola
do filho pródigo o filho era a filosofia mundana, o pai era Cristo e a casa a
igreja;
b) Alcuíno (735-504), de Iorque, na
Inglaterra;
c) Rabano Mauro, que
foi aluno de Alcuíno. Escreveu que as quatro rodas da visão de Ezequiel
representavam a lei, os profetas, os evangelhos e os apóstolos. No quádruplo
sentido, a Bíblia tinha como significado histórico, o leite; alegórico, o pão;
anagógico, o alimento saboroso; tropológico, o vinho que alegra;
d)
Bernardo de Claraval (1090-1153) era um monge que além de vários
trabalhos fez 86 sermões, apenas sobre os dois primeiros capítulos de Cantares.
Era um exagerado no misticismo e na alegorização;
e)
Joaquim Flora (1132-1202), monge beneditino, disse que existem três
eras: 1) da criação a Cristo - de Deus; 2) de Cristo até o ano de 1260 - de
Cristo; 3) a que começou em 1260 - do Espírito Santo;
f) Stephan Langton
(1155-1228), arcebispo de Cantuária, disse que no livro de Rute o campo
simbolizava a Bíblia, Rute os estudiosos e os ceifeiros são os mestres. Foi ele
quem dividiu a Vulgata em dois capítulos.
Apesar da alegorização e do método
quádruplo de interpretação predominar no período medieval, outros métodos
estavam sendo desenvolvidos. Entre eles estava o dos cabalistas, um grupo que
se desenvolveu neste período, eram pessoas que se dedicavam às ciências ocultas
e que tinham em comum o objetivo de interpretar a Bíblia de forma mística e
misteriosa.
No último período medieval, os cabalistas na
Europa e na Palestina, deram ênfase à tradição do misticismo judaico e fizeram
com que a prática do letrismo se tornasse ridícula. Para eles tudo tinha um
significado místico, sobrenatural, principalmente quando se tratava das letras
da Bíblia.
Entre alguns grupos existentes, havia um que
estava crescendo e este utilizava um método de interpretação mais científico.
Também havia os judeus espanhóis dos séculos XII a XV que incentivavam a volta
ao método histórico-gramatical para a interpretação.
O teólogo mais famoso da Igreja Católica Romana,
no Período Medieval, foi Tomás de Aquino (1225-1274), que apoiava o método do
sentido quádruplo, mas chegou a observar uma certa incompatibilidade no mesmo.
Na prática alegorizou bastante, mas na teoria cria que o sentido literal era
fundamental para qualquer exposição dos escritos da Bíblia. Para ele, da mesma
forma que a Bíblia tem um autor divino e vários autores humanos, ela tem que
ser interpretada com o sentido literal e com o espiritual. Mas o literal
continuava sendo a base de tudo. Esta teoria está expressa em sua Summa
Theológica.
No mesmo período surgiu um homem que influenciou
muito para o retorno à interpretação literal, Nicolau de Lyra (1270-1340), que
chegou a ser considerado a luz no meio das trevas na época da Reforma. Acusou o
sentido quádruplo de sufocar o literal. Embora admitisse dois sentidos, o
literal e o místico, a sua base era o literal e também via da mesma forma em
relação a doutrina. Com esta visão mostrou que apoiava e era influenciado pelo
Rabino Shilomão Bar Isaque.
Rashi (1040-1105) foi um literalista judeu que
influenciou muito nas interpretações judaica e cristã, através da ênfase que
dava a gramática e a sintaxe do hebraico.
Com a mesma visão, Nicolau de Lyra,
rejeitou a Vulgata e se voltou para o hebraico. Um ponto importante é que ele
não conhecia o grego. Mas ele influenciou fortemente Lutero e, segundo alguns,
foi quem deu início a Reforma.
Ainda há um teólogo, extraordinário, que precisa
ser citado, João Wycliffe (1330-1384), afirmava que as doutrinas e a vida
cristã tinham como fonte a Bíblia. Contestando a posição tradicional da Igreja
Católica. Foi o primeiro a traduzir a Bíblia para o inglês e disse que tudo o
que é necessário na Bíblia está contido nos sentidos literal e histórico.
Utilizava como regras para a interpretação
bíblica um texto confiável e entendia a lógica do mesmo. Comparava os textos
bíblicos entre si e se colocava sob a orientação do Espírito Santo de Deus.
Mesmo existindo alguns teólogos que se esforçavam
para estudar e tornar as interpretações mais coerentes, havia uma grande
mistura em relação as interpretações. A ignorância do povo e, principalmente,
dos teólogos começou a predominar. Começando então, a surgir um conflito que
mais tarde tornou-se conhecido como a Reforma.
A Interpretação
na Reforma
A Renascença foi muito importante para o
desenvolvimento de princípios hermenêuticos sadios. Nos séculos XIV e XV havia
muita ignorância em relação ao conteúdo da Bíblia. Muitos doutores em divindade
nunca haviam lido a bíblia toda. A única forma pela qual a Bíblia era conhecida
era através da tradução de Jerônimo.
A Reforma foi uma época de distúrbios sociais e
eclesiásticos, mas foi essencialmente, uma reforma hermenêutica, isto é, uma
reforma quanto a forma de ver e interpretar a Bíblia. Durante a Reforma a
Bíblia passou a ser a única fonte legítima para nortear a fé e a prática. Os
reformadores utilizavam como base o método literal que a escola de Antioquia e
dos vitorinos utilizava.
A Renascença que teve início na Itália
reavivou o interesse pela literatura clássica, incluindo o hebraico e o grego.
Desidério Erasmo, humanista proeminente da época, revisou e publicou, em 1516,
a primeira edição crítica do Novo Testamento Grego, facilitando desta forma o
estudo da Bíblia. Johannes Reuchlin escreveu diversos livros sobre a gramática
hebraica e um léxico também. Estes dois eram conhecidos como os dois olhos da
Europa e mostraram aos intérpretes da Bíblia que, para estudá-la, era preciso
conhecer as línguas em que fora escrita.
Nota-se que o sentido quádruplo foi
deixado e o novo pensamento é que a Bíblia só tem um sentido. Para os
reformadores a Bíblia era a Inspirada Palavra de Deus e mesmo que a idéia a
respeito da inspiração fosse estrita, eles a tinham mais como orgânica do que
mecânica. Também viam a Bíblia como a maior autoridade e como a fonte final de
apelação em todas as questões teológicas. Tudo que antigamente era confiado e
posto para a igreja passou a dar lugar para a Bíblia.
Afirmavam que não era a igreja que determinava o
que as Escrituras ensinavam, mas tinha que acontecer ao contrário, isto é, as
Escrituras que determinavam o que a igreja deveria ensinar. Surgiram dois
princípios fundamentais: 1) Scriptura scripturae interpres (Escritura é
intérprete da Escritura); 2) Omnis intellectus ac expositio Scripturae sit
analogia fidei (toda compreensão e exposição da escritura seja de acordo com a
analogia da fé).
Martinho Lutero
(1483-1546)
Após passar por
uma experiência pessoal com Cristo através da leitura da
Bíblia, Lutero
deixou de alegorizar os textos e criticou esse método de forma veemente.
Ele disse que:
"quando
monge, eu era perito em alegorias. Eu alegorizava tudo. Mas, depois de fazer
preleções sobre a Epístola aos Romanos, passei a conhecer a Cristo.
Foi assim que percebi que ele não é nenhuma
alegoria e aprendi a saber o que Cristo realmente é".
Por causa desta experiência, Lutero
acreditava que a fé e a iluminação do Espírito Santo eram requisitos
indispensáveis para o intérprete da Bíblia. Para ele, a Bíblia deveria ser
vista com olhos diferentes dos que olham para qualquer outra literatura.
Rejeitou o sentido quádruplo de interpretação, o qual predominou no período
medieval e ressaltou o sentido literal (sensus literalis).
Chegou a agredir com veemência o sentido
alegórico ao compará-lo com a escória da Bíblia e a colocá-lo como mais baixo
que a imundícia. Defendeu que as Escrituras deveriam ser mantidas em seu
significado mais simples e compreendidas através do seu sentido gramatical e
literal, salvo haja um impedimento por parte do contexto. Em sua exegese
considerou as condições históricas, gramaticais e o contexto. Com este
pensamento ressaltou a importância do estudo das línguas das Escrituras.
Lutero acreditava que todo cristão devoto
podia entender a Bíblia. Contrariava a opinião da Igreja Católica Romana que
tinha essas pessoas como suas dependentes. Porque a Igreja Católica determinava
o que as Escrituras ensinavam, quando isto deveria acontecer ao contrário, como
já foi dito antes.
Pelo fato de não concordar e abandonar o sentido
alegórico, Lutero, precisou arrumar um meio de explicar como o AT se unia ao NT
e a melhor forma foi achar nos textos do AT referências que apontavam para
Cristo. Apesar desta forma não ser muito aceita hoje, foi ela que o ajudou a
mostrar uma unidade entre o AT e o NT.
Mesmo sendo contra a alegorização, muitas
vezes alegorizou, como quando disse que a arca de Noé era uma alegoria da
igreja. Mesmo assim, não foi um alegorista exagerado, talvez porque se
preocupou mais com a cristologia em toda Bíblia. O livro onde encontrou mais
facilidades para ver Cristo foi o de Salmos.
Seus princípios hermenêuticos eram
melhores do que as suas exegeses. Um de seus princípios dizia que era
necessário fazer uma cuidadosa distinção entre a Lei e o Evangelho, porque a
Lei se refere a Deus em sua ira para com o pecado e o Evangelho se refere a
Deus em sua graça para com o pecador. Mas Lutero não incentivou o repúdio à Lei
porque, segundo ele, isso levaria à imoralidade. Entretanto não conseguia ver a
Lei e o Evangelho se unindo, para ele era como se fosse unir as obras à fé.
Além de ter ajudado muito e por ter
acabado com a alegoria, Lutero prestou um grande serviço à nação alemã ao
traduzir a Bíblia para o alemão vernáculo.
Philip
Melanchthon (1497-1560)
Melanchthon, companheiro de Lutero em
exegeses, continuou a aplicação dos princípios hermenêuticos de Lutero em suas
exposições bíblicas, sustentando e aumentando, desta forma, o impulso do
trabalho de Lutero. Chegando a ser chamado de a mão direita de Lutero.
Era um profundo conhecedor do hebraico e
do grego, por isso era um intérprete admirável e prudente. Mesmo tendo umas
pequenas recaídas para a alegorização, seguia, no geral, o método gramatical e
histórico.
Tinha como princípios para a sua exegese que as
Escrituras deviam ser entendidas gramaticalmente antes de serem teologicamente
e que as mesmas têm um simples e determinado sentido.
João Calvino
(1509-1564)
É considerado um
dos maiores intérpretes da Bíblia e concordava com os princípios hermenêuticos
de Lutero. Também acreditava na necessidade da iluminação do Espírito Santo de
Deus e considerava a interpretação alegórica uma artimanha de Satanás para
obscurecer o sentido das Escrituras. Suas exposições abrangem quase todos os
livros da Bíblia, dando-lhes o devido valor.
Superou a Lutero ao manter coerência
entre a sua exegese com a sua teoria. Discordava de Lutero no caráter
cristológico de toda a Escritura, pois não aceitava que Cristo deveria ser
visto em todas as partes. Mas acreditava muito na significação tipológica de
muitas coisas do AT.
Para ele os profetas deveriam ser
interpretados à luz das circunstâncias históricas e não via tantos Salmos
messiânicos como Lutero. Acreditava que a virtude do intérprete era "permitir que o autor diga o que realmente diz, ao
invés de lhe atribuirmos o que pensamos que devia dizer". Sua frase
predileta era A Escritura interpreta a Escritura, por isso se apegou à exegese
gramatical e ao contexto de cada passagem.
É mais conhecido
por causa da sua teologia expressa na obra, Institutas da Religião Cristã, onde
fez 1.755 citações do AT e 3.098 do NT. Também por seus comentários sobre
vários livros da Bíblia. Os únicos livros que não comentou foram: Juízes, Rute,
I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester,
Provérbios, Eclesiastes, Cantares, II e III João, e Apocalipse.
Ulrich Zwínglio
(1484-1531)
Enquanto Calvino era o principal da
Reforma em Genebra, Zwínglio era em Zurique. Ele cortou as relações com a
Igreja Católica Romana e passou a pregar sermões expositivos. Para ele,
interpretar um texto sem conhecer o seu contexto era como separar uma flor da
sua raiz.
Outro que se destacou foi William Tyndale
(1494-1536), que defendia o sentido literal. Traduziu o NT para o inglês em
1525, o Pentateuco e o Livro de Jonas.
Por causa destes e outros que se desligaram da
Igreja Católica Romana, começou a surgir alguns problemas, porque a Igreja
Católica Romana não aceitava perder a sua posição autoritária e suprema na vida
das pessoas. Afinal, agora as pessoas podiam ler a Bíblia e entendê-la através
dos seus próprios estudos.
Além de perder o controle total sobre tudo o que
se referia as Escrituras, a Igreja Católica Romana, começou a perder a
credibilidade em relação aos seus intérpretes (doutores) das Escrituras. Porque
eles não conheciam a Bíblia tão profundamente e nem se preocupavam porque
estavam acostumados a interpretá-la de acordo com o que pensavam, pois
utilizavam o método alegórico.
A Reforma foi realmente uma revolução que
mexeu com muita gente e teve grandes repercussões. Todavia o maior problema não
foi a Reforma em si, mas os seguidores de Lutero, Calvino, Zwínglio e etc;
porque se preocuparam em atacar a Igreja Católica Romana, ao invés de
continuarem a seguir a ênfase dada à fé e a revelação para a interpretação.
Neste movimento surgiram muitos grupos e foram
realizados concílios entre outros fatos. Este período é mais conhecido como
pós-reforma.
A Interpretação
na Pós-Reforma
Do século XVII ao XVIII alguns movimentos
se tornaram marcantes. Entre eles pode-se citar a divulgação e a disseminação
do calvinismo, assim como, as reações ao mesmo, os estudos textuais e
lingüísticos e o racionalismo.
Todos estes são frutos do que ocorreu durante o
conflito existente entre os períodos medieval e da Reforma. Pois este último
teve muita força nos seus adeptos e seguidores contra a Igreja Católica Romana.
Mas a Reforma Protestante serviu para esclarecer algumas dúvidas referentes à
interpretação da Bíblia.
No decorrer dos séculos XVII e XVIII, houve um
grande desenvolvimento no sentido de descobrir o texto original da Bíblia e
muitas pessoas se destacaram como sendo grandes críticos das Escrituras.
Louis Cappell é considerado o primeiro
crítico textual do AT, conforme pode-se notar em sua obra Crítica Sacra de
1650. Johann A. Bengel é conhecido como o pai da crítica textual moderna, pois
foi o primeiro a identificar famílias ou grupos de manuscritos, com base em
características comuns. Em 1734, publicou uma edição crítica do NT grego e um
comentário crítico. Em 1742, escreveu um comentário crítico, de versículo por
versículo, sobre o NT. Johann J. Wettstein corrigiu muitos manuscritos do NT e
publicou o NT grego em dois volumes com um comentário em 1751.
Após o Concílio de Trento os protestantes
começaram a criar as suas próprias doutrinas para poderem defender os seus
ensinamentos. Por isso a pós-reforma foi considerada uma época de dogmatismos
teológicos, que era uma espécie de caça às heresias e de um rigoroso
protestantismo doutrinário.
Como em todo movimento que surge, a Reforma
também gerou alguns problemas, estes podem ser vistos ao observar os grupos que
surgiram e o que pregavam.
Com a liberdade de interpretação dos teólogos,
muitos começaram a seguir linhas de pensamentos diferentes ao invés de se
reunirem e chegarem a um acordo.
Os Anabatistas
Este movimento começou em 1525, em Zurique na
Suíça, com os seguidores de Zwínglio. Eles achavam que Zwínglio não cortara os
laços com a Igreja Católica Romana nas questões referentes ao controle da
igreja por parte do Estado e no batismo de crianças. Os fundadores deste
movimento foram: Conrad Grebel, Felix Mantz e Georg Blaurock.
Os anabatistas achavam que se uma pessoa tivesse
sido batizada quando criança, de acordo com a linha reformada Zwingliana, após
tornar-se adulta, se aceitasse a Cristo, deveria ser rebatizada. Daí o nome
anabatista (que batiza de novo).
A Contra-Reforma
Todas as reformas empreendidas pela
Igreja Católica Romana contra os protestantes, ficaram conhecidas como
Contra-Reforma.
Em resposta a Reforma Protestante a
Igreja Católica Romana, convocou o Concílio de Trento, o qual se reuniu várias
vezes entre o período de 1545 e 1563. Este concílio declarou que a Bíblia não é
a autoridade suprema, mas que a verdade encontra-se em livros escritos e em
tradições não escritas. Estas incluem os pais da igreja da antigüidade e os
atuais líderes.
Por se considerar a guardiã das Escrituras, a
Igreja Católica Romana foi apontada como sendo a única forma possível de fazer
uma interpretação precisa.
O
Confessionalismo
Como já foi visto, os protestantes
estavam divididos, isto é, havia muitas facções e cada uma procurava uma forma
de defender a sua opinião apelando para as Escrituras.
Quase todas as cidades importantes tinham o seu
credo predileto, juntamente com as controvérsias teológicas. Os métodos
hermenêuticos neste período estavam se tornando escravos da dogmática.
Enquanto os protestantes se recusavam a ficar sob
o domínio hermenêutico da Igreja Católica Romana, conforme havia sido formulado
pelos concílios e pelos papas, começavam a surgir as confissões como forma de
inibir as revoltas.
Entre outras, a Confissão de Westminster
que foi aprovada pelo parlamento inglês de 1647 e pelo escocês de 1649,
apresentou teses e doutrinas que eram contra o calvinismo na Inglaterra.
A posição que
esta Confissão tomou em relação às Escrituras foi:
A regra infalível da interpretação bíblica
está nas próprias Escrituras; portanto, quando houver dúvida sobre o
significado verdadeiro e completo de qualquer passagem (que é apenas um e não
muitos), deve ser pesquisado e conhecido em outros trechos que sejam mais
claros.
Com esta linha de pensamento as
Escrituras começaram a ser utilizadas como pretextos para apoiar as verdades
incorporadas nas Confissões.
Em toda a história da exegese do século
XVIII, Johann Ernesti (1707-1781) foi o nome mais notável. Seu trabalho sobre
Institutio Interpretis Nove Testamenti (Princípios de Interpretação do Novo
Testamento) foi um manual de hermenêutica durante uns 100 anos.
O Arminianismo
(1506-1609)
O teólogo holandês Jacobus Arminius
rejeitou muitos ensinamentos de João Calvino e pregava que o homem possui o
livre-arbítrio. Após a sua morte, em 1610, alguns dos seus seguidores expuseram
suas pesquisas num tratado chamado Contestação.
O Pietismo
(1635-1705)
Através da teoria de Jacob Boehme, sobre
o misticismo (crença ou doutrina religiosa dos místicos; o elemento místico de
qualquer doutrina; tendência a considerar a ação de supostas forças espirituais
ocultas na natureza, que se manifestam por vias outras que não as da
experiência comum ou as da razão; disposição para crer no sobrenatural) na pós-reforma,
foi aberto um espaço para o pietismo e sua ênfase na espiritualidade interior.
O misticismo de Boehme defendia que o
homem podia adquirir conhecimentos diretos sobre Deus e ter comunhão com ele
por meio de uma experiência subjetiva, à parte das Escrituras.
Surge então o
pietismo que é uma reação contra o dogmatismo doutrinário.
Mas esta reação
era sadia porque estavam cansados das lutas entre os protestantes.
Tinham como
princípio viver uma vida piedosa.
Philipp Jakob Spener, é considerado o fundador do
pietismo (movimento de intensificação da fé, nascido na Igreja Luterana alemã
no século XVII; ato de afirmar a superioridade das verdades da fé sobre as
verdades da razão) e como todo luterano, rejeitava o formalismo morto e a teologia
apenas de palavras e credos. No folheto Anseios Piedosos pedia o fim da
controvérsia, pois achava inútil. Também pedia para os cristãos voltarem a ter
interesses pelas boas obras, um melhor conhecimento da Bíblia e que os
ministros tivessem um melhor preparo espiritual. Para ele o cristão deveria
viver uma vida consagrada, santa, uma vida de estudo e oração.
Dois dos seus seguidores se destacaram no
decorrer da história, Ramback e Francke. Estes foram os primeiros que falaram a
respeito da interpretação psicológica, no sentido que o sentimento do
intérprete deveria estar em sintonia com os do autor que deseja compreender.
Apesar de Bengel ter sido o melhor intérprete que essa escola produziu, foi
August H. Francke (1663-1727) quem mais se destacou e utilizou muitas
características que o folheto de Spener continha.
Francke era um erudito, lingüista e
exegeta. Participou na formação de muitas instituições destinadas ao cuidado
dos desamparados e dos enfermos, e ainda se envolveu na organização de um
trabalho missionário na Índia. Insistia que a Bíblia deveria ser lida por
inteiro com freqüência, que os comentários não poderiam tomar o lugar do estudo
das Escrituras e que só os salvos por Cristo poderiam compreendê-la.
O pietismo contribuiu muito para o estudo das
Escrituras. Eles tinham tanta vontade de entender e de se apropriar delas que,
em alguns momentos, apreciaram a interpretação histórico-gramatical. Os mais
recentes a descartaram e passaram a depender de uma luz interior ou uma unção
do Santo. O problema dessas manifestações subjetivas e de suas reflexões
piedosas provocaram muitas interpretações contraditórias até mesmo com a vida
do autor.
Este fato de terem a edificação como alvo
tão desejado os levou a desprezar a ciência. Dentro de sua ótica o estudo
gramatical, histórico e analítico da Palavra de Deus produzia apenas o
conhecimento externo e superficial do pensamento divino, enquanto que o que
tirava conclusões para a repreensão e o que consistia em oração e lamentação
penetrava no âmago da verdade.
O movimento do pietismo influenciou os morávios,
que influenciaram John Wesley (1703-1791) o qual também desacreditava o
racionalismo humano.
O Racionalismo
Surgiu como importante modo de pensar,
com o intuito de criar um profundo efeito sobre a teologia e a hermenêutica,
porque era uma posição filosófica que aceitava a razão como única autoridade
que determinava as ações de alguém. Como movimento durou cerca de 100 anos.
Este movimento afirmava que o intelecto
humano sabia distinguir o que é verdadeiro e falso. Isto também servia para a
interpretação da Bíblia. Lutero fez questão de estabelecer uma certa distinção
entre o uso ministerial e o magisterial por causa disto. Ele se referia ao uso
ministerial da razão quando esta ajudava a compreender e a obedecer as
Escrituras; o magisterial da razão quando ela era superior ou até mesmo, juíza
das Escrituras. É lógico que Lutero apoiou a primeira!
Mas com as discussões que surgiram em
torno da autoridade e da interpretação das Escrituras, alguns filósofos
começaram a afirmar que só era possível compreender a Bíblia através da razão
humana. Na verdade, utilizavam a Bíblia como um pretexto.
Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês,
pregou o racionalismo voltado para a política, pois utilizava a Bíblia como um
livro que continha regras e princípios para a república inglesa.
O judeu Baruch Spinoza (1632-1677),
filósofo holandês, ensinava que a razão humana estava desvinculada da teologia.
Para ele a teologia era a revelação e a filosofia era a razão e ambas eram
distintas. Por ser judeu tinha facilidade para interpretar o AT, principalmente
Provérbios, livro que os judeus tinham como base para culpar a Deus por tudo
que acontecia. Spinoza aproveitou e mostrou que não havia nada nas Escrituras que
o homem não pudesse compreender intelectualmente.
Sua teoria apelava às emoções religiosas do homem
e movia a obediência, mas não a verdade. Chegou a contestar os milagres
bíblicos, porque tinha a razão como único critério para interpretar as Escrituras.
Também existiram outros filósofos que
deram a razão autoridade para interpretar a Bíblia. Entre eles pode-se citar
João Colet; Mateus Hamond que declarou que o NT e os Evangelhos de Cristo são
meras tolices, histórias de homens ou fábulas;
Mackintosh; Reimarus que acusou os discípulos de terem deturpado os
ensinamentos de Cristo e falou que a fé é irreconciliável com a razão; João
Ernesti que foi o fundador da escola gramatical de interpretação; João Semler
que foi o fundador da escola histórica de interpretação bíblica e considerado o
pai do racionalismo.
Interpretação nos
séculos XIX e XX
A posição filosófica que defendia o
racionalismo predominou até o século XX. Nos séculos anteriores a revelação
determinava o que a razão deveria pensar, agora a razão determinava que partes
da revelação deveriam ser aceitas como verdadeiras. A autoria divina, que foi
muito defendida nos séculos passados, perdeu o lugar para a autoria humana.
A razão humana tomou uma parte tão grande na
revelação divina que estava difícil de compreender e acreditar nas Escrituras.
Surgiram então, vários grupos com pensamentos diferentes e alguns que
concordavam com o racionalismo.
O Liberalismo
O século XX abrigou muitas correntes de
interpretação bíblica, entre elas havia a escola liberal que apresentava Jesus
como um grande mestre de ética, ao invés de Salvador. Neste período surgiram
alguns estudiosos que chegaram a negar totalmente o caráter sobrenatural da
inspiração; outros não a mencionavam como sendo uma iluminação de Deus sobre os
seus autores. Para alguns a inspiração estava ligada à capacidade da Bíblia em
inspirar uma experiência religiosa, sendo que a Bíblia fora produzida por
humanos.
A Bíblia deixou de ser vista como a
revelação de Deus ao homem para tornar-se em qualquer coisa que os estudiosos
necessitassem, como um livro feito por qualquer homem. Darwin a utilizou para
afirmar a sua teoria evolucionista. Os milagres e qualquer intervenção divina
eram aceitos através de explicações de pensamentos pré-críticos. Nota-se que a
Bíblia teve um naturalismo forçado.
Se alguma coisa não estivesse de acordo com as
idéias do racionalismo era rejeitada. Essa idéia servia para as doutrinas
também, as quais explicavam a depravação humana, o inferno, o nascimento virginal
e, conseqüentemente, a morte vicária de Cristo. Schleiermacher foi um dos
escritores que pensava assim.
Mas o fundamentalismo reagiu fortemente
ao liberalismo e abordou para que se tivesse uma visão da Bíblia como um livro
sobrenatural.
Os Neo-ortodoxos
e os Ortodoxos
A neo-ortodoxia teve alguns aspectos
intermediários entre o liberalismo e a ortodoxia e foi um fenômeno do século
XX. Ela acabou com a idéia de que a Bíblia era fruto da mente religiosa humana,
mas também não concordava que as Escrituras fossem um fruto somente divino.
Para eles as Escrituras registram o testemunho do homem a respeito da revelação
que Deus faz de si mesmo.
A Bíblia é vista como um compêndio de sistemas
teológicos as vezes conflitantes, acompanhados por diversos erros fátuos. Desta
forma há uma negação por parte deles às questões relacionadas a infalibilidade
e a inerrância. Todos os fatos históricos referentes ao sobrenatural e ao
natural são vistos como mitos, a saber, não ensinam a história literalmente. Já
os mitos bíblicos (criação, ressurreição) mostram as verdades teológicas na
forma de incidentes históricos.
Karl Barth (1886-1986), diz que a Bíblia registra
e dá testemunho da revelação; em si mesma, não é a revelação. Outros líderes
neo-ortodoxos são: Emil Brunner e Reinhold Neibuhr.
Rudolf Bultmann (1884-1976) ensinava que o NT
deveria ser compreendido em termos existencialistas pela demitização (separar o
essencial das narrativas bíblicas de sua forma literária mítica; limpar de
mitos a mensagem cristã), porque em seu entender os milagres (mitos)
representavam uma realidade para as pessoas daquela época, mas no momento atual
não tinham nenhum significado literal. Entre esses milagres que ele questionava
estava a ressurreição de Cristo.
A teologia bultmanniana era totalmente
influenciada pelo existencialismo do filósofo alemão Martin Heidegger
(1886-1976), a qual era fruto da Segunda Guerra Mundial. Para eles a
hermenêutica não era uma ciência que formula princípios através dos quais os
textos podem ser entendidos, mas era uma investigação da função hermenêutica da
fala como tal, tendo um raio de ação muito mais amplo e mais profundo.
Esses eruditos utilizaram a linha do
subjetivismo para afirmarem o seu pensamento sobre a Nova Hermenêutica. Pois
assim o texto bíblico poderia ter o sentido que o leitor desejasse. A verdade
existente era uma experiência e não um escrito.
De acordo com o que pensavam, a
hermenêutica era o processo de entender a si mesmo e nunca o de desvendar a
Bíblia, porque esta fora escrita há séculos e o homem não consegue entrar
naquele mundo.
Os ortodoxos, que acreditavam que a Bíblia
representava a revelação que Deus fez de si mesmo através de seus próprios atos
à humanidade, atribuem como tarefa principal do intérprete compreender, o
melhor possível, o significado intencional dos autores das Escrituras. Por isso
empreenderam nos estudos da história, da cultura, da língua e outros para
entenderem o que significava a revelação. Muitos teólogos conhecidos fazem
parte deste movimento, entre os quais pode-se citar: H. A. W. Meyer, John A.
Broadus; também existiram outros como: Louis Berkhof, A. Berkeley Mickelsen e
Bernard Ramm, que serviram de manuais de hermenêutica para a tradição.
Em seu livro, Roy B. Zuck faz um tipo de
mapa para dar uma noção de quem fez parte de cada período. Num formato mais
simples este mapa cronológico fica assim:
Pais da Igreja:
a) Literal: Clemente de Roma, Inácio e
Policarpo;
b) Alegórico: Barnabé;
Apologistas:
a) Literal:
Justino Mártir, Irineu e Tertuliano;
Pais Alexandrinos
e Antioquinos:
a) Literal: Doroteu, Luciano, Diodoro, Teodoro, João Crisóstomo e
Teodoreto;
b) Alegórico:
Panteno, Clemente e Orígenes;
Pais da Igreja
dos Séculos V e VI:
a) Alegórico: Cassiano, Euquério, Adriano,
Junílio, Jerônimo e Agostinho; b)
Tradição:
Vicente;
Idade Média:
a) Literal: Rashi, Hugo de S. Vítor, Ricardo
de S. Vítor e André de S. Vítor;
b)
Alegórico: Bernardo, Joaquim, Langton, Gregório, o Grande, Beda, o
Venerável, Rabano Mauro e Alcuíno; e também Aquino, Nicolau e Wycliffe;
Reforma:
a) Literal: Lutero, Melanchton, Calvino,
Zwínglio, Tyndale e os anabatistas;
b) Tradição: Concílio de Trento;
Pós-Reforma:
a)
Literal:
Confissão de Westminster, F. Turrentin, John Wesley, J. A. Turretin, Cappell, Ernesti,
Bengel e Wettstein;
b) Racionalismo: Hobbes e Spinoza;
c) Subjetivismo: Boehme, Spener e Francke;
Era Moderna:
a) Literal: comentaristas exegéticos e
eruditos evangélicos;
b) Racionalismo: Jowett, Baur, Strauss,
Welhausen, Harnack, Peré, Fosdick e
DeWolf;
c) Subjetivismo: Schleiermacher, Barth, Kierkegaard e Bultmann.
As Interpretações de Hoje
Conforme se vê, a interpretação passou por sérias
mudanças quanto aos métodos a serem empregados. A princípio passou a ser
utilizado o método literal; depois o método totalmente alegórico, que deixou o
literal de lado; depois veio o método das tradições no qual a igreja predominou
e não aceitou a opinião individual; surgiu então, o método racional que não
aceitava nenhum tipo de idéia sobrenatural e também o subjetivo que descartava
o objetivo.
O estudante de teologia que não entender
e nem procurar saber como interpretar e quais os métodos existentes para a
interpretação, ficará limitado a pegar um pouco de cada um desses métodos já
utilizados no passado. O resultado que obterá, mostrará que a sua interpretação
será uma "salada" ou uma forma de "resto de feira" de
interpretação.
Em qualquer igreja de hoje, século XXI,
encontra-se um tipo de interpretação que foi citado anteriormente. Da mesma
forma há os que misturam as interpretações e fazem uma só. Mas o que é mais
triste é que a maioria dos estudantes de teologia aceitam essas coisas e
pregam-nas em suas igrejas como sendo o melhor método de interpretação existente.
Além de existir, hoje em dia, todo o tipo
possível de interpretação que já foi visto, uma idéia é tida como ponto em
comum. Esta é a platônica, pois todos crêem que há uma alma que se desprende do
corpo e se une a alma de forma incorruptível no céu. Entretanto, apenas este
ponto em comum não é o suficiente para ser aceito como o certo. É necessário
que o estudante de teologia saiba como fazer uma interpretação de um texto, da
melhor forma possível. Para isso é preciso utilizar os fatores históricos, culturais,
gramaticais, textuais e outros que o texto apresente.
Brasileiro de Pedro canário ES atualmente moro em Cariacica casado com josely aranha,professor e monitor do Ibad,Bacharel em teologia
Brasileiro de Pedro canário ES atualmente moro em Cariacica casado com josely aranha,professor e monitor do Ibad,Bacharel em teologia
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